Ao verem isso, os
discípulos Tiago e João perguntaram: “Senhor, queres que façamos cair fogo do
céu para destruí-los?”. Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: “Vocês
não sabem de que espécie de espírito vocês são, pois o Filho do homem não veio para
destruir a vida dos homens, mas para salvá-los” – Lucas 9.54, 55.
O mundo segue acompanhando o triste e interminável conflito
entre palestinos e israelitas e se perguntando até quando haverá derramamento
de sangue e perda de vidas, e se é possível uma paz, se não definitiva, ao
menos duradoura que sirva de bases para um diálogo contínuo e possível acordo.
No Brasil, pessoas e grupos têm se posicionado e defendido perspectivas que nem
sempre condizem com o ideal de paz que contemple os dois lados, pois são pontos
de vistas parciais firmados em pressupostos religiosos, ideológicos, ou em
ambos.
Por um lado, uma ala ideológica que milita em favor das
minorias defende a qualquer custo a criação de um estado palestino alegando que
eles têm direito. Considerando a duração dos conflitos e o horror vivido por
famílias, especialmente mulheres, idosos e crianças, é necessária uma ação
imediata que venha pôr fim às mortes, e nesse sentido não estão errados. Porém,
o equívoco é querer resolver toda a situação de forma simples e imediata sem
considerar as consequências futuras, visto que uma solução não ajustada
corretamente entre as partes pode apenas mascarar o problema e acirrar ainda
mais a violência.
Do outro lado, baseado em leituras simplistas e maniqueístas
da Bíblia, grande parte dos líderes evangélicos desenvolve e instiga em seus
rebanhos a ideia de que Israel é o povo de Deus e, consequentemente, são do
bem, e que os palestinos são inimigos de Israel, logo, inimigos de Deus e,
portanto, do mal. Desprovidas de uma reflexão bíblico-histórica adequada, de
uma hermenêutica sadia, e de princípios verdadeiramente cristãos,
interpretações desse tipo desconsideram leituras como as do Livro de Jonas,
Rute e outros, no Antigo Testamento, e de palavras do próprio Senhor Jesus que
chama a atenção de seus discípulos - que queriam imprecar fogo contra os
inimigos de Israel - dizendo que veio ao mundo para salvar as pessoas e não
para destruí-las.
Diante do que foi exposto, e ainda que pareça
paradoxal, percebemos que a mais simples das reflexões nos leva a escolher um
lado, o lado da vida, seja de quem for, pois todos os povos têm o direito de
existir e se defender, mas toda vida tem também o mesmo valor. A reflexão não
pode ser fundamentada apenas nas individualidades, pois um sempre verá o seu
lado em detrimento dos demais. Logo, as lideranças, tanto israelitas quanto
palestinas, não podem ser exercidas em nome de extremistas que querem existir a
partir da destruição de seus semelhantes. Um meio de coexistência (convivência)
pacífica deve ser mutuamente buscado e construído respeitando-se os
pressupostos de cada povo, independente de serem sociais (culturais),
geográficos ou religiosos. Não é uma tarefa fácil, mas o sangue das vidas
perdidas e que ainda se podem perder clamam por isso.
Oremo pelos judeus, e oremos pelos palestinos por quem Jesus, igualmente, entregou sua vida.
Valdenir Soares - Teólogo e Professor
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