terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Ano da graça do Senhor


Está chegando o fim do ano de 2013. Já podemos ver nas lojas e nas casas os arranjos e decorações e com eles a euforia das crianças, parentes e amigos preocupados com as recepções e presentes, afinal já é dezembro, o último mês, e as tão aguardadas festas de fim de ano estão às portas.
As comemorações de fim de ano têm uma influência enorme na vida das pessoas; há planos para elas. Planos de todo um ano ou mais, pois muitas vezes se trabalha todo um ano - ou anos - pensando apenas no que se fará naquele fim de ano programado.
Entretanto, parece um contrassenso comemorar um fim porque no átimo de tempo seguinte, naquele mínimo instante que segue a contagem regressiva, na qual é zerado o cronômetro, já não é mais o fim e sim um novo começo, e a comemoração feita pelo período que chega ao fim já acontece dentro de um novo tempo. Até mesmo o Natal, que desafortunadamente é comemorado como festa de final de ano, é a lembrança de um nascimento e, portanto, não está relacionado a um fim, mas a um começo.
Se, por um lado, percebemos que há alguns paralelos interessantes entre fins e começos - visto que essa linha que divide o tempo é bastante frágil -, por outro, entretanto, descobrimos que são necessárias grandes rupturas para que um novo começo seja verdadeiro e traga, de fato, novidade. É nesse sentido que alguns episódios bíblicos apontam não para a simples e tênue transição do tempo, mas para o resultado que o fato traz.
Um exemplo digno de ser citado se encontra no Livro de Gênesis. Ele nos diz que com o fim do Caos teve início a Ordem e a Criação pela Palavra de Deus (Gn 1.2). O instante não ficou registrado, mas o seu efeito perdura até hoje. De forma não menos enfática o Apóstolo Paulo aponta para fases da vida. Na primeira Carta aos Coríntios ele diz que quando cessa a meninice começa o tempo da verdadeira maturidade (I Co 13.11). O autor de Cantares, por sua vez, acena para o poético da vida dizendo que ao cessar o inverno e as chuvas aparece um tempo excelente: tempo de observar as flores, e de cantar (Ct 2.11, 12). Lembro-me ainda de um dos ex-exilados de Israel que ao ser restaurado à sua terra comparou a experiência vivida ao cessar de um tempo de lágrimas derramadas pela semente lançada com ansiedade, e o início do tempo da colheita. Para ele a transição era como o fim de uma longa, tenebrosa e triste noite, e o início de um novo, iluminado e alegre dia (Sl 126.5, 6).
Sem dúvida alguma, a vida é marcada por fins e começos e o Senhor mesmo usa esses tempos para aperfeiçoar seus filhos. Veja a história do jovem José. Parte dela é marcada pelos dias da inveja, das injustiças, da solidão, das prisões e da dor. Mas logo em seguida vem os dias melhores; dias das privilegiadas (e duras) responsabilidades de ser governador de todo o Egito. Por esse tempo ele já não era mais o menino mimado e orgulhoso por ser o preferido do seu pai, mas o homem que a situação requeria: maduro, experimentado e forjado pelas adversidades que por hora findavam(Gn 37-41).
Dessa forma, entendemos que o propósito é que o novo tempo sempre chegue aperfeiçoado e traga coisas novas e duradouras. Sabemos que o fim mesmo da nossa estada nesse mundo pecador e corrupto se dará, nas palavras do Apóstolo Pedro, com a inauguração dos “novos céus e nova terra onde habita a justiça” (II Pe 3.13). E é nesse sentido que o sábio do Eclesiastes, tido por pessimista e mal-humorado, liga o tempo à soberania de Deus concluindo que quando cessam todas as vaidades humanas é chegado o momento de temer a Deus e obedecer os seus mandamentos (Ec 12.8, 13).
Ao vir a esse mundo Cristo pôs fim a um período de trevas e ignorância, e na plenitude do tempo inaugurou a Era da Graça, o longo ano da bondade do Senhor (Isaías 61.2). É certo que vivemos determinados pelo tempo com seus fins e inícios, términos e novos começos. Porém, as perspectivas que a Palavra de Deus aponta no Ano da Graça não nos deixa olhar para trás, para tempos idos, nem somente para o ano que por hora se finda, mas para a frente, cuja meta é o pleno encontro com Cristo, autor e consumador da nossa fé.
O ano de 2014 pode nos oferecer apenas a perspectiva de mais um ano. Todavia, o ano da bondade do Senhor continua a oferecer coisas novas e duradouras, um novo, contínuo e abençoado começo.
Um proveitoso ano de 2014!

Valdenir Soares - Teólogo e Professor

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