"Depois que
Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do
oriente chegaram a Jerusalém e
perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no
oriente e viemos adorá-lo”. [...]. Depois
de ouvirem o rei (Herodes), eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham
visto no oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde
estava o menino. Quando tornaram a ver a estrela encheram-se de júbilo. Ao
entrarem na casa viram o menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se, o
adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e
mirra" - Mateus 2.1, 2, 9-11 (NVI).
Creio que a comemoração
do Natal seja o evento mais lembrado em toda a Terra. Acredito também que nesses
mais de dois mil anos de cristianismo quase todos os povos ou mesmo pessoas
dentre todos os povos, em todos os tempos, o festejaram e festejam seja por
tradição, costumes herdados, ou simplesmente porque outras pessoas o fazem. Aparentemente
não há nada de mal ou errado nessa prática, afinal nesses dias, estes que finalizam
um ano e antecedem um novo, aprendemos que devemos ser bons, solidários e, guiados
pelo famoso espírito do Natal, devemos trocar presentes, felicitações, propor
certas resoluções na vida, rever conceitos, abandonar um vício, e até mesmo fazer
uma reorientação dos nossos hábitos alimentares (regime), pois o Natal e o Ano
Novo são tempos que nos convidam a mudanças.
Porém, disse aparentemente
porque penso que uma comemoração do Natal sem o entendimento correto é extremamente
danoso, pois a cada ano tem sido diluído o seu verdadeiro sentido. Não sei
quantos prestaram atenção ou se perderam na enorme lista de tudo o que é lembrado
no Natal, mas sei que ao longo do tempo todas essas coisas ocultaram ou, no
mínimo, obscureceram a figura central e motivo de o Natal existir, pois se Jesus,
o Filho de Deus, é a figura central e motivo da comemoração do Natal é a ele a quem
devo me dirigir. E se é a ele a quem devo me dirigir como chego, ou melhor,
como devo chegar até ele? Parece uma pergunta bastante estranha afinal ele não
está aqui, eu não o vejo. E mais, o que poderia eu oferecer a ele?
Olhando para
o texto bíblico acima notamos que pelo menos três coisas orientaram a viagem dos
sábios na busca pelo Salvador. Digamos que essas três coisas que os
direcionaram também podem servir de guia e motivação, e direcionar as nossas
vidas para um encontro pessoal e real com o Filho de Deus. Essas três coisas que
devem estar diante de nós e nos orientar podem ser traduzidas por três perguntas:
1. A quem buscamos?
Podemos ver que essa era uma questão muito bem
resolvida entre os sábios, pois ao chegar diante de Herodes eles sabiam a quem
procuravam: o rei dos judeus. Segundo a história esses homens eram estudiosos
dos astros. Os antigos povos caldeus, medos, persas e outros os chamavam de
magos, sábios, mestres, pois eram visionários, adivinhadores, intérpretes de
sonhos etc. Estes foram sensíveis à orientação de Deus e buscaram por meio do estudo
das profecias e escritos antigos saber quando e onde nasceria o Messias. Quando
viram o sinal de Deus (estrela) não tiveram dúvida de que o Rei havia nascido e
imediatamente partiram à sua procura.
Que coragem a desses homens em proclamar diante de
Herodes que Jesus era o verdadeiro Rei! Essas palavras devem ter chocado até
mesmo o povo judeu que já havia se acostumado ao senhorio de Herodes; mas eles
sabiam a quem buscavam. Hoje, igualmente, as pessoas têm muitos reis sobre suas
vidas. Num tempo de relativismos, meias verdades, e uma chuva de outras coisas
propagadas até mesmo como bíblicas, ou “de Deus”, será que existe espaço para
um rei?
É preciso disposição para se buscar ao Rei, pois ninguém
poderá achá-lo por você. A busca tem que ser pessoal e com o firme e único propósito
de honrá-lo e adorá-lo. É preciso disposição para se buscar ao Rei, pois, caso você
o encontre, sua vida será mudada; ele tem planos para ela. Sua vontade, propósitos,
decisões, deverão estar submetidos ao senhorio do Rei. Caso já se saiba, ou
seja, já se tenha convicção de quem se busca é possível refletir sobre a
segunda questão.
2. Onde buscamos?
O onde remete a lugares ou sinais da presença, e a
história está repleta de sinais que apontam para Jesus tanto na história mesma como
na sociedade. Os sábios disseram “vimos a sua estrela e viemos...”. O onde diz
respeito tanto a quem busca quanto a quem se diz seguidor e “lugar de encontro”
do Rei. Um, comprometido na busca, está ávido por encontrar e o “onde” é a sua
meta. O outro, o que se diz “lugar de encontro”, deve estar apto à
representatividade. Essas colocações nos fazem questionar sobre que tipo de
cristãos temos sido. Será que a minha vida tem sido sinal e mostra do “onde”,
isto é, da presença do Rei? E será que minha comunidade de fé tem sido sinal,
luz, estrela, que tem apontado para a presença do Rei? A luz da estrela era
clara. Possivelmente os sábios a tenham seguido por várias noites mas ela
continuava a apontar radiante e atraente para o lugar da presença. E ela
apontou de tal forma que - desejosos - nenhum dos que buscavam deixaram de
encontrar.
Onde estão os sinais da presença,
do agir e da mudança que Cristo provoca na Igreja? E onde estão os sinais da
presença, do agir e da transformação que Cristo provoca em cada cristão,
chamados pelo Apóstolo Pedro de pedras vivas, tijolos que compõem a Igreja?
Quantas estrelas imprecisas e intermitentes temos
visto nesses dias. Luzes opacas, cujos raios se perdem, sem propósito,
apontando difusamente para si mesmas. Quantos corações estão sedentos para
encontrar o Rei, mas muitas luzes já não correspondem nem apontam para o “onde”
exato. É preciso discernimento para se seguir a orientação correta. Havia muitas
estrelas e muitas luzes enquanto os sábios viajavam naquelas noites. Mas havia
uma que estranha e maravilhosamente brilhava de tal forma que foi possível
chegar. Caso já se distinguiu uma pessoa ou uma comunidade de fé, ou seja, uma
luz confiável, já é possível refletir sobre a terceira e última questão.
3. Para que buscamos?
O nosso texto bíblico diz “... e,
prostrando-se, o adoraram. Então
abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra”. Duas coisas
interessantes respondem a terceira pergunta. A primeira é a reverência, o ato
de se prostrar, de se reconhecer servo, de reconhecer o senhorio do Rei. A segunda
é o ato de oferecer presentes, coisas que o honrem, nesse caso o ouro, o
incenso, e a mirra que eram oferecidos somente a reis. É importante observar a
ordem desses atos, pois não há como oferecer honrarias ao Rei sem antes reconhecê-lo
verdadeiramente como tal.
Muitas pessoas tem certas coisas em altíssima
estima e jamais se desfazem delas. Quando se está totalmente rendido ao Rei é possível
oferecer o que se tem de mais valioso, e isso nem sempre diz respeito a dinheiro
ou bens. Quantas pessoas oferecem elevadas somas acreditando que estão
adorando a Deus mas, em muitas situações, seja por ignorância ou idolatria (manipulação da divindade),
não estão fazendo - ou propondo - nada mais que trocas.
O objetivo da busca
é reverenciar, reconhecer e honrar ao Rei, se alegrar na sua presença, exaltar
sua grandeza, receber suas graciosas (e redundantes) dádivas, contemplar sua grandeza
e majestade, alimentar-se de sua paz e, assim como os sábios, encher-se de
júbilo!
Caso esses três
passos ficaram claros para você, isto é, você já entendeu o “a quem”, o “onde”,
e o “para que”, então acredito que você esteja frente a frente com o Rei. Não
perca a oportunidade de conhecê-lo, recebê-lo, e honrá-lo.
Feliz natal e
Proveitoso Ano de 2014!
Valdenir Soares - Teólogo e Professor
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